quarta-feira, 8 de setembro de 2010

CARAS E MODOS DOS MIGRANTES E IMIGRANTES

Laelson Lourenço da Silva
Aluno do 6º Período de História, UERN - Assu

A autora Maria Luiza Renaux trata do tema imigração, preocupação anterior ao fim do tráfico de escravos, por parte do império e dos grandes proprietários de terras. Maria Luiza faz a sua análise no contexto das fazendas de café do oeste paulista, com o imigrante sendo introduzido de forma gradual junto aos cativos. Este fato tem inicio à época em que o governo joanino adota as políticas imigrantista dando incentivo para a vinda de europeus para o Brasil no estabelecimento de colônias de europeus em terras do Rio de Janeiro, São Paulo e nas províncias do Sul, combinada com medidas restritivas ao tráfico no ano de 1818. Entretanto, ressalta a autora, até meados do século XIX, tanto a política de imigração como a agrária permanecem ilusórias, pois a política agrária continua a ser controlada pelos fazendeiros que introduziam um número cada vez maior de escravos africanos no Brasil. Maria Luiza discorre sobre o embate ocorrido entre as duas correntes que se digladiaram durante o período em que o governo imperial implanta a política de imigração. Dentro desta vertente a autora demonstra como o fim do tráfico de escravos leva a um embate entre os fazendeiros, preocupados em atrair novos braços para dar continuidade à política da grande propriedade e a agricultura de exportação. Sabedor desta deficiência o império põe em prática um projeto para trazer para o Brasil, imigrantes que poderiam inclusive ter dupla função: resolver a deficiência da mão-de-obra e formar um povo qualificado para a nação. Isto porque havia também um grande preconceito com o trabalhador nacional, ou seja, com a mão-de-obra disponível: o ex-escravo alforriado. No entanto, o império não pensava em uma substituição de mão de obra, e sim um sistema de loteamento que propiciasse novos pólos produtores e as terras públicas teriam sido o primeiro atrativo para convencer novos imigrantes a virem para o Brasil. Porém a elite imperial estava preocupada com quem se estabeleceria nessa terra e iria fazer parte da sociedade brasileira, pois a questão do trabalho e da imigração estava intimamente ligada ao conjunto de famílias que formariam a futura sociedade brasileira. Haja vista que os modos e costumes eram construídos na colônia, se mostrava necessária uma maior presença de europeus como força de trabalho. A autora busca sistematicamente revelar detalhes sobre estes imigrantes, passando pela sua naturalidade, até a maneira como se adaptaram a um país estranho e como introduziram costumes e hábitos alimentares, bem como as suas práticas sociais e religiosas, dentro de uma nação em construção.

Em uma idéia secundária do texto, a autora vai discorrer sobre a preservação da identidade cultural dos imigrantes Alemães. Essas comunidades, as chamadas “Falsas Europas”, conseguiram através da construção de igrejas e escolas, que ensinavam a língua Alemã, preservar parte dos costumes da sua terra natal. A vinda de estrangeiros emigrados gera uma nova necessidade para Igreja católica do Brasil: atender espiritualmente toda essa leva de indivíduos de diferentes línguas. O governo passa a incentivar a vinda de ordens e congregações religiosas para suprir carência de escolarização destes imigrantes, bem como assistência hospitalar e religiosa

Assim, o Brasil passa a receber não só os colonos europeus, mas também imigrantes religiosos. No entanto, o estado brasileiro não tinha uma atuação constante junto a essas populações imigrantes, o que faz com que esses grupos sobrevivam diante de muitas privações. Diante disso, eles vão tentar suprir essas carências por meio de sua própria organização, como no caso dos imigrantes alemães, muito embora existisse entre eles uma grande heterogeneidade. Dentre estes imigrantes se manifestará um sentimento de cooperativismo em busca de edificarem igrejas e escolas. Dentro do modelo educacional implantado, as cartilhas escolares, por sua vez, deixam claro que o que se queria promover nas escolas era a consciência de uma comunidade alemã e ao mesmo tempo de cidadania brasileira, buscando-se com isso a inclusão da população de origem alemã no Estado brasileiro. Não deixavam de lado a nação brasileira, mas priorizavam a valorização dos aspectos de vida da terra natal.

Em outra idéia colocada pela autora se pergunta: o imigrante se tornou o cidadão brasileiro pensado pela elite imperial? haja vista, que ausência do Estado nos espaços onde residiam os imigrantes estrangeiros vai além da questão educacional, ou mesmo religiosa? a resposta é: não. Diante da marcante presença de estrangeiros no país a Igreja e a escola desempenharam significativo papel normalizador de condutas sociais no meio destas colônias de alemães. A igreja por ser uma instituição capaz de integrar os indivíduos entorno de um núcleo colonial com identidade, costumes próprios e a escola pela ausência de uma política educacional por parte do governo brasileiro. Esta ausência abriu espaços para que se ensinassem a língua alemã e muitas vezes com professores vindos da própria Alemanha. Esse sistema educacional das comunidades alemãs no exterior irá ser influenciado pela elite intelectual alemã e será visto com o decorrer dos tempos, como um perigo à integridade nacional brasileira.

Em outra idéia subjacente a autora busca refletir sobre a mudança no comportamento das duas correntes, no que se refere ao debate sobre as caras e modos dos imigrantes, ocorrido entre os fazendeiros e a burocracia imperial sobre a naturalidade dos imigrantes. Verificou-se uma diminuição no debate entre estas duas correntes que buscavam o controle da política imigracionista no Brasil, já que a grande leva de imigrantes Portugueses, Espanhóis e Italianos chegaram a atender, em um determinado momento, às necessidades de ambas as partes. A entrada desta mão-de-obra estrangeira serviu à propósitos distintos: aos fazendeiros, que lhes interessava a “imigração” de europeus, destinados a diminuir os déficits de trabalhadores livres nas fazendas e aos governos, que viam assim atendidas as suas expectativas culturais no que se refere ao uso da imigração como instrumento de “civilização”. É importante essa discussão, pois ela reflete como a imigração no Brasil desde o seu princípio, se mostrou permeada de interesses tanto cultural, como econômico, por parte dos grupos que formavam as classes dominantes no Brasil. Se de um lado, aos fazendeiros não importavam a naturalidade do imigrante, pois buscavam apenas braços para trabalharem em suas lavoras; Para o império, os imigrantes precisavam atender a todos os requisitos, tanto o econômico, como o cultural.

Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe e RENAUX, Maria Luiza. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. pp. 303-305. V. 2.

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