quinta-feira, 9 de setembro de 2010

IMAGEM E AUTOIMAGEM DO SEGUNDO REINADO

Paulo Ricardo Tavares
Aluno do 6° Período de História, UERN - Assu

Com a vinda dos primeiros instrumentos fotográficos ao Rio de Janeiro no ano de 1840 e algumas inovações tecnológicas neste campo, a fotografia se tornou algo relativamente habitual. O imperador juntamente com a elite começou a fazer uso reprodutivo destas imagens e no caso do imperador, o uso das fotografias serviria para disseminar a sua imagem para o restante do império. “O imperador representava a imagem do império nas exposições universais, e nada melhor que a fotografia para possibilitar essa identificação” (Mauad, p. 197). O fato é que, além de servir como forma eficiente de propagação da imagem destas elites do império, as fotografias fizeram com que aquelas classes interpostas da população alcançassem este mesmo tipo de técnica e arte, isto desde a corte até às imensas casas dos grandes produtores de café. Certamente isto colaborou de forma demasiada no processo de interiorização dos valores da elite nas camadas da população. Vale ressaltar que no século XIX as fotografias exerciam um estatuto de reprodução segura e fiel da realidade, grosso modo seria uma maneira objetiva de se representar, isenta de qualquer intervenção subjetiva, desta forma obedecendo às conjeturas da ciência moderna, considerada como ícone do progresso. A grande maioria da população aparentemente ignorava que os ângulos escolhidos, as vestimentas, as poses, assim como a iluminação, eram realizadas de acordo com a representação que o fotógrafo desejara passar de si mesmo. Percebe-se os hábitos cotidianos reproduzidos nessas imagens e toda estratégia “publicitária” dos fotógrafos cada vez mais numerosos com o intuito de ganhar uma clientela especial, a fotografia na família imperial.

“... foi o olhar dos estrangeiros que nos enquadrou, ao mesmo tempo que educava o nosso olhar, para que nós mesmos pudéssemos nos mirar nos espelhos da cultura importada de seus países de origem”. (Mauad, p. 184).

O fragmento do texto de Mauad logo acima servirá para discorrer sucintamente uma das ideias subjacentes presentes em “imagem e autoimagem no Segundo Reinado”. Seria o desvio de padrão de comportamento da grande maioria da população diante de um modelo europeu, algo constantemente evidenciado no texto de Mauad. Não obstante algumas famílias desejavam ser fotografadas com muita ostentação, ou seja, com base na pequena ética dos hábitos burgueses europeus. Mas em muitos casos, a população acabava absorvendo condutas sociais de origem europeia, quase que de maneira não intencional. Portanto a fotografia foi fator determinante por dar à população a sua autoimagem. Não se reduzia somente ao retrato em si, mas certamente também em relação à maneira e ao estilo europeu na qual as elites tanto demonstravam apreço e também à união direta com D. Pedro II, grande admirador das ciências e das artes e que foi o grande responsável pela vinda das tecnologias fotográficas ao país.

Noutra observação feita, a ideia subjacente estaria presente logo no título do texto de Ana Maria Mauad. O título certamente nos remete a um raciocínio um tanto curioso, trata-se de um problema social e porque não dizer também político? A autora afirma a existência de uma imagem do segundo reinado e que neste está contida uma autoimagem. Diante disto, surge um questionamento referente à identidade, ou seja, quem era o segundo reinado? O soberano, a nação ou os subordinados? Refiro-me a estes últimos como os súditos. O certo é que as pessoas são criadoras e propagadoras de imagens e que a história social trabalha exatamente no resgate da identidade dessas pessoas e que imagens estas produzem e/ou reproduzem.

Referências:
MAUAD, Ana Maria. Imagem e Auto Imagem do Segundo Reinado. In: NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil. Vol.2. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

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