quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A RESISTÊNCIA INDÍGENA NO SERTÃO DO RIO GRANDE

Laelson Lourenço da Silva
Aluno do 6° Período de História, UERN - Assu

Após a expulsão dos holandeses, que dominaram o litoral norte por aproximadamente trinta anos, o processo de colonização portuguesa foi retomado. Isto significava adentrar o interior do território e conquistá-lo. Para que isso acontecesse a administração portuguesa precisava reestruturar parte de suas atividades produtivas, pois os prejuízos causados pelas guerras, secas e epidemias, além da destruição de alguns engenhos que se opuseram ao domínio holandês, aliados à concorrência com o açúcar produzido pelos holandeses nas Antilhas, prejudicaram sensivelmente a produção de açúcar, que era a principal produto e fonte de rendas.

Dentro dessa reorganização as capitanias passaram a ser governadas novamente por capitães-mores, pois havia a necessidade da diversificação das atividades econômicas rumo ao interior, tanto com o avanço pastoril rumo a essas terras interioranas, onde a colonização não havia chegado, como em busca de metais e pedras preciosas. No projeto português a conquista dessas áreas interioranas se daria mediante guerras, a serem movidas contra os índios, as chamadas “guerras justas”, e para isso foram designados os “capitães de infantaria das ordenanças”, que foram encarregados de estabelecer a ocupação dessas terras.
Este processo de ocupação se deu através de apropriações de terras, conquistadas sob o poder das armas e, neste processo de retomada da colonização, a Igreja Católica Romana voltaria a participar com as chamadas “missões volantes”. Fundadas por padres jesuítas, as primeiras missões de aldeamento na capitania do Rio Grande foram as missões de Guajiru, localizada no atual município de Extremoz, e a de São João Batista de Guaraíras, localizada no atual município de Arês.

Os Tapuias habitavam os estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí e Maranhão, divididos em dois grandes grupos: Cariri e Tarairiú que eram subdivididos em várias tribos e vários dialetos. Os Tarairiús habitaram os vales do Açú, Apodi e Seridó, no Rio Grande do Norte. Dentre as tribos que foram identificadas na capitania do Rio Grande, podemos citar: JANDUÍ, ARIÚ, ARARIÚ, PEGA, CAMAÇÚ, TUCURIJÚ, SURUCU, JAVÓ, CANINDÉ, JENIPAPO, PAIACU, PAJEÚ, PANATI, ARIÚ, CABORÉ E COREMA. Vale ressaltar que muitos dos indígenas que ali estavam já haviam feitos alianças com os Holandeses no enfrentamento dos luso-brasileiros e por isso existia uma desconfiança de ambos os lados. Estas desconfianças aliadas à ocupação dos territórios indígenas de forma indiscriminada iriam culminar com o grande conflito que ficou conhecido como, a Guerra dos Bárbaros, tendo como principal palco dessa resistência, a capitania do Rio Grande.

A chamada “Guerra dos Bárbaros” ou “Levante do Gentio Tapuia” durou 42 anos, e aconteceu nos vales do Açú/Piranhas, Apodi e Seridó, no Rio Grande do Norte, estendendo-se até o Ceará, no vale do Jaguaribe. A luta foi travada pelos “Terços Paulistas” contra índios Tapuias. Começando em 1683 e só terminando em 1725, quando os “paulistas” foram dos quartéis do Arraial do Açú.

As tribos Tarairiús eram comandadas pelo rei Canindé, filho do rei Janduí. Por volta de 1670, aconteceu uma reunião do povo Tarairiú, em reação aos portugueses que ocupavam cada vez mais as suas terras com a criação de gado e lavouras. Alguns Historiadores denominaram esse evento de “Confederação dos Cariris, erroneamente, pois não chegou a ser uma confederação e o povo Cariri era outra nação Tapuia, não envolvida”. Aconteceram diversos ataques dos Tarairiús aos colonos que permaneceram ou tentaram se instalar nos vales. Em 1687, esses confrontos se tornaram gravíssimos, pois tinha se tornado frequente os índios dispersarem ou matarem o gado.

Em maio de 1688, saiu de Pernambuco o “Terço dos Pretos”, de Henrique Dias que recebeu os reforços de índios “mansos”, africanos e mestiços, seguindo para Açú, onde foi fundada a base de operações contra os índios Janduís. Na mesma época por ordem do Governador Geral do Brasil, foram libertos das prisões do Rio Grande os criminosos e degredados que se dispuseram a combater os índios do vale Piranhas/Açú.

Logo no primeiro confronto os Janduís reagiram e surpreenderam os “pretos” com armas de fogo, possivelmente fornecidas por piratas que entravam pela barra de Macau e subiam o rio Açú, até onde era possível navegar. Do século XVI ao XVIII, navios piratas se refugiavam entre o Rio Grande do Norte e o Ceará. Essa vantagem se deu por dois fatores: os Janduís estarem em maior número, e também devido às deserções das tropas conquistadoras, que pereciam da falta de dinheiro para adquirir armas, mantimentos e munições, bem como para pagamento do soldo aos oficiais.

É somente a partir do ano de 1690, que a guerra começa a tomar outro rumo, pois o Governador- geral da colônia decide reunir todas as forças que lutavam no sertão e direcioná-las para a capitania, culminando com o pedido de paz de algumas tribos Janduís. Acredita-se que a captura do chefe dos janduís – “Canindé” – por Domingos Jorge Velho, teria posto fim a resistência indígena nos sertões.

Os portugueses aldearam os Tarairiús sobreviventes e, sob o controle dos religiosos, extinguiram seus costumes e identidades; ocuparam seus vales e suas praias. Existem documentos de 1727, no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sobre assentamentos de escravos índios casados com escravos negros. O historiador Olavo de Medeiros desperta para a possível intenção dos senhores da época, de promover uma “completa extinção da etnia Tarairiú. (…) tal ocorrência, que é digna de um melhor estudo”.
Em 1844, os índios estavam virtualmente extintos. Os que ainda tinham sangue índio, em quase nada se pareciam com seus antepassados (a exceção eram os traços físicos), pois os nomes próprios a fala, a cultura, tudo então era português, imposto pela religião católica e uma forte discriminação social com pardos, caboclos e negros.

Os conflitos entre os colonizadores e os indígenas dos sertões se constituem a maior prova da resistência indígena à colonização Portuguesa. É inegável a valentia destes guerreiros nativos que apesar das degolas, dos aprisionamentos, cativeiros e reduções em aldeamentos jesuíticos que sofreram ao longo dos anos, conseguiram resistir por cerca de mais trinta anos, sempre lutando como podiam pela posse de suas terras para tentar vencer a cobiça e a colonização injusta dos Portugueses. Por não se submeter e tentar resistir às imposições dos colonizadores, os indígenas do Rio Grande e do Brasil, foram colonizados sob uma visão cultural preconceituosa e injusta, onde o nativo era tratado como “bárbaros” ou “infiéis”, culminando com o extermínio quase que completo da população indígena.

Há alguns anos, cinco estados brasileiros diziam não haver indígenas em seus territórios. Hoje, apenas um estado detém esta triste marca: Rio Grande do Norte. Nos outros quatro (Ceará, Piauí, Rio de Janeiro e Sergipe), comunidades indígenas reivindicaram suas identidades originais.

Referências:
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à História do Rio Grande do Norte - Natal: Edufrn, 2000.
Filho, Olavo de Medeiros - ACONTECEU NA CAPITANIA DO RIO GRANDE - IHGRN, 1997.
Moura, Getúlio, 1962 – Um Rio Grande e Macau: Cronologia da História Geral / Getúlio Moura - Natal (RN): G. Moura, 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário