quarta-feira, 8 de setembro de 2010

OS QUILOMBOS MARANHENSES

Laelson Lourenço da Silva
Aluno do 6º Período de História, UERN - Assu 

No texto “Os quilombos maranhenses” Mathias Rönrig Assunção identifica uma multiplicação de quilombos no século XIX e ressalta que o Maranhão às vésperas da independência possuía a mais alta concentração escrava do império. Além de destacar alguns aspectos da sociedade escravista da época, o autor afirma que poucas fazendas do interior do Maranhão não tiveram quilombos ao seu redor, mas considera que o Maranhão pode ser considerada uma sociedade escravista tardia, pois é só no final do XVIII que a região apresentará uma escravidão agrícola plenamente desenvolvida. Além de efetuar uma tipologia dos quilombos e a atuação do estado, bem como a sua ação nos movimentos políticos e a sua contribuição para a economia da época, ele irá trabalhar também com a hipótese de que existiram quilombos que persistiram na região, os chamados quilombos endêmicos. Sugere também que os quilombos irão perder a referência africana ao longo dos tempos, devido as mudanças no perfil das lideranças. Igualmente ao que ocorrera em todas as regiões brasileiras, a condição de existência do cativo maranhense levou-o a fugir comumente e a formar quilombos. Dentro desta sistemática, o autor retrata como se deu a “Balaiada”, uma das revoltas populares mais importantes do país, tendo como vetor principal o recrutamento forçado (chamado de “pega” pelos camponeses), apontado como uma das causas principais e mais imediatas para a eclosão da revolta, demonstrando o caráter camponês dessa luta que envolveu milhares de homens e mulheres do interior maranhense. O autor atribui a alta concentração de quilombos no maranhão ao fato de que a área ocupado pelas fazendas escravistas situavam-se no limite da fronteira agrícola do Estado. Segundo ele, o número elevado de escravos, a existência de uma mata abundante e de uma fronteira que não era controlada pelo estado e a instabilidade política do período, foram fatores decisivos para esta multiplicação Destaca que havia uma predominância de quilombos de pequeno porte, que ocuparam as matas e mantinham um contato direto com a sociedade escravista, através de trocas ou apropriação. Esta interação entre os quilombolas e a sociedade escravista no comércio de seus produtos, é pautada constantemente por interrupções, haja vista que este tipo de comércio ficava prejudicado em épocas de ataques aos quilombos por parte do governo imperial.

Uma idéia secundária que o autor destaca no texto é quanto a sobrevivência dos quilombos. Este fato é atribuído não tão somente à localização dos quilombos em áreas de fronteiras, mas também, porque os seus integrantes não viviam totalmente isolados da sociedade. Ele esclarece que havia trocas de mercadorias entre os habitantes dos quilombos e os comerciantes locais, demonstrado que a economia interna desses grupos está longe de representar um aspecto isolado em relação às economias regionais da Colônia, do Império e da República. Nessa perspectiva, o autor levanta o argumento de que paralelamente à formação do aparato de perseguição aos fugitivos, existia uma rede de informações que ia desde as senzalas até muitos comerciantes locais. Estes últimos tinham grande interesse na manutenção desses grupos porque lucravam com as trocas de produtos agrícolas, por produtos que não eram produzidos no interior do quilombo. Por isso, o autor considera que os quilombos não podem ser vistos como inimigos da sociedade escravista da época, pois eles constituíram um segmento importante na produção de produtos para a região onde estavam situados. No entanto, frisa o autor, não podemos deixar de identificar alguns antagonismos existentes nesta relação.

Outra idéia do texto diz respeito á inserção de pessoas livres nos quilombos. Esta parte da população se ressentia da falta de apoio do estado imperial e sofria com os constantes recrutamentos e perseguições e buscavam refúgios nos quilombos, pois viam o recrutamento como uma forma de vida parecida com as dos quilombolas, pois os soldados passavam dias embrenhados nas matas. O autor busca destacar que a conivência entre estes homens livres e os quilombolas (que lhe davam treinamento no uso das armas), praticada no inicio em pequena escala, vai descambar em uma aliança futura. Esta ótica demonstra como era grande a distância que separava a classe senhorial da população livre e pobre e, como este fato contribuiu para que houvesse um relacionamento entre os quilombolas e os homens livres. Dentro desta vertente, os quilombos podem ser vistos como um ponto de refúgio não tão somente para os quilombolas, mas também para aqueles que eram excluídos pela política imperial. Este tipo de cooperativismo entre estes dois grupos reflete bem como era difícil a vida na sociedade maranhense da época, pois não só os negros fugiam do trabalho escravo e se refugiavam em quilombos. Os homens livres por viverem sujeitos a privações econômicas e a arbitrariedade por parte do governo e suas perseguições, também buscavam fugir, como os escravos, em busca de liberdade. Mesmo que esta liberdade significasse morar dentro das matas e os levassem a sofrer toda espécie de privações.

Referências:
ASSUNÇÃO, Matthias R. Quilombos maranhenses. In: REIS, João José & GOMES, Flávio dos.[Orgs.]. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 434.

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